Antes de aderir ao hábito dos bem-sucedidos, entenda se essa estratégia realmente se encaixa no seu relógio biológico

Minha rotina começa muito antes do sol nascer. Às 5h já estou de pé, e vinte minutos depois estou pedalando. Antes das 6h, faço meditação combinada com exercícios de hipopressiva e bracing. Só então tomo café, levo as crianças para a escola e me preparo para o trabalho. Essa organização me dá uma sensação de controle sobre o dia que nada mais proporciona.

Não estou sozinha nessa escolha. Jack Dorsey, da Square, usa as primeiras horas para meditar e correr, buscando clareza mental. Oprah Winfrey reserva esse período para práticas de bem-estar. Howard Schultz, que comandou a Starbucks, aproveitava a madrugada para treinar e estruturar pensamentos. O denominador comum? Todos enxergam o amanhecer como momento estratégico para construir a base de um dia produtivo.

Mas aqui mora um perigo: a tentação de copiar fórmulas alheias sem questionar. Eu mesma já caí nessa. Vemos estratégias associadas ao sucesso e queremos replicá-las imediatamente, como se fossem universais. Acontece que nossos organismos funcionam de maneiras distintas, e ignorar essas particularidades pode custar caro.

Diversos fatores precisam entrar na equação antes de você programar o alarme para as 5h:

1. Quantidade e qualidade do descanso noturno. Encurtar o sono para ganhar horas matinais prejudica memória, raciocínio e estabilidade emocional.

2. Seu perfil cronobiológico. Há quem naturalmente funcione melhor pela manhã ou pela noite, e isso está programado no organismo.

3. Agenda e obrigações. Se você tem compromissos noturnos frequentes, forçar um despertar precoce pode criar um déficit crônico de sono.

4. Intensidade dos treinos. Exercícios pesados demandam recuperação adequada, e isso depende diretamente de horas suficientes de repouso.

5. Contato com luz. A exposição solar pela manhã ajuda a sincronizar o ritmo circadiano, enquanto telas à noite podem atrapalhar.

6. Pressão psicológica. Ansiedade e tensão afetam tanto a qualidade do sono quanto a adaptação a novos horários.

Pesquisas apontam vantagens reais para madrugadores. Um estudo da revista Sleep, da Universidade de Oxford, demonstrou que pessoas que despertam cedo apresentam maior prontidão para executar tarefas logo pela manhã, o que se traduz em ganhos de eficiência. A Universidade de Harvard identificou que esses indivíduos costumam ser mais proativos e apresentar visão otimista, características que favorecem organização e reduzem caos.

Entre os benefícios científicos:

• Janela para planejamento e autocuidado. Levantar quando o mundo ainda dorme cria um ambiente tranquilo, perfeito para quem quer treinar, refletir e estruturar prioridades sem pressão.
• Foco sem interferências. Nas primeiras horas, notificações e demandas ainda não começaram, criando condições ideais para trabalho que exige concentração profunda.
• Construção de disciplina. Sustentar o hábito de despertar cedo fortalece autocontrole, fundamento essencial para qualquer transformação que você busque.
• Estado emocional positivo. Estudos indicam que matutinos tendem a demonstrar maior satisfação e otimismo, impactando motivação ao longo das horas.

Porém, há uma condição não negociável: o sono precisa estar preservado. Cortar descanso para acordar mais cedo é estratégia falha. A Sleep Health Foundation alerta que a privação de sono compromete seriamente a produtividade, afetando concentração e tomada de decisões, além de elevar riscos de ansiedade e esgotamento.

Se você naturalmente rende melhor em outros horários, como Jonah Peretti, do BuzzFeed, que acorda às 8h30, ou Elon Musk, que começa o dia às 7h, forçar uma rotina matinal pode gerar mais prejuízo que benefício. O National Institute of Health reforça que o relógio biológico individual influencia diretamente o bem-estar, e desrespeitar esse ritmo pode provocar irritabilidade, fadiga e queda de performance.

Só você pode determinar se acordar cedo funciona no seu caso. Produtividade transcende o horário do despertador e está ligada a como você usa seu tempo e se organiza. O elemento crucial é compreender seu próprio ritmo. Muitas pessoas alcançam pico de desempenho à tarde ou à noite, e isso é perfeitamente válido. Pesquisas confirmam que respeitar seu cronotipo natural resulta em performance mais sólida e sustentável.

E nada substitui sono adequado. Se o esquema de dormir cedo e acordar cedo não está trazendo resultados, talvez seja hora de repensar. A National Sleep Foundation estabelece que adultos necessitam entre 7 e 9 horas de sono para funcionar adequadamente. Isso importa muito mais do que tentar se moldar a uma rotina incompatível.

Então…

Acordar às 5h pode funcionar maravilhosamente para alguns, mas está distante de ser mandatório. Produtividade depende principalmente de sono reparador, respeito ao ritmo individual e consistência, não do horário que aparece no despertador. O essencial é descobrir o que realmente funciona para você, sem se prender a modelos prontos.

Minha convicção é que o caminho do sucesso sustentável passa por honrar suas necessidades individuais. Isso significa construir uma rotina que inclua atividade física, nutrição adequada e, fundamentalmente, a habilidade de escutar seu corpo. Reconhecer sinais como cansaço excessivo permite ajustes necessários para garantir que você está cuidando da saúde de maneira equilibrada e duradoura.